As viagens
Trailer da viagem a Cracóvia e Auschwitz - Nos Trilhos de Sarah Gross
Desde que, em 2015, publiquei Perguntem a Sarah Gross, foram várias as pessoas que me desafiaram a acompanhar uma visita à Polónia. Sempre rejeitei a ideia, nunca entendi que a minha presença pudesse valorizar substancialmente a viagem ou acrescentar qualquer coisa à prestação dos guias profissionais que nos mostram Cracóvia, ou mesmo à dos de Auschwitz, sujeitos a uma preparação exigentíssima. Se um dia aceitasse o desafio, seria para propor uma experiência diferente, em que – aí, sim – pudesse valer-me dos 30 anos que levo a investigar a perseguição aos judeus na Europa e a história dessa pequena cidade no sudoeste polaco: Oswiécim – o nome oficial, ou Oshpitzin, como lhe chamavam os judeus, ou ainda Auschwitz, como foi rebatizada pelos alemães e dada a conhecer universalmente.
Então lembrei-me do romance e de todos os seus lugares. Quantos desses cenários escapam aos tradicionais roteiros turísticos? Foi assim, a partir do itinerário de Perguntem a Sarah Gross, que esta visita foi pensada. A primeira edição teve lugar em agosto de 2022. Nela, além dos lugares mais populares de Cracóvia – a Cidade Velha, o Palácio Real de Wawel, a Fábrika Schindler, o antigo Gueto ou o bairro judeu de Kazimierz – e, ainda, dos antigos campos de Auschwitz I e Birkenau, visitámos muitos outros, esses por onde passaram Sarah Gross, Henryk e Anna, Daniel e Esther, ou mesmo Max, o Corvo: a cidade de Oswiecim, a Solahutte, o Collegium Novum da Universidade...
Mas há mais, teria de haver mais.
Quando, entre 2009 e 2011, fiz a minha formação em Auschwitz I, conclui que visitar aqueles lugares exige preparação. Assim, nos dois meses que antecederam a partida, realizámos outras tantas videoconferências em que falámos de Sarah Gross, discutimos outros livros e filmes que, ao longo de oito décadas, nos têm ajudado a perceber o que aconteceu, como aconteceu e como foi possível, sublinhando as limitações da linguagem – essas de que fala Primo Levi - na representação do grande desastre humano. Em Cracóvia, fosse ao final de cada tarde, no hotel ou a caminho do restaurante onde jantávamos juntos -, revimos a jornada, falámos das atividades do dia seguinte, relacionando-as com o romance, uma oportunidade para que cada um partilhasse o seu balanço e expectativas.
A experiência excedeu tudo o que cada um de nós poderia esperar. Ao longo daqueles seis dias, tornou-se evidente um entendimento mudo entre todos. No fundo, partilhávamos a mesma pequenez enquanto atravessávamos o portão com a frase infame «Arbeit Macht Frei”, a mesma incompreensão. Daí os laços, esse improvável impulso de manter o diálogo muito para além da viagem - um grupo de dezenas de pessoas que, ainda hoje, meses após o regresso, se juntam no espaço virtual para perceber o que nos aconteceu naqueles dias.
E foi deles que partiu a ideia:
fazer a viagem, desta vez a Itália, à região da Toscana, cenário do meu terceiro romance, Um Tempo a Fingir.
Começaremos por Roma, no antigo gueto judaico, passando depois para a Toscana, seguindo os passos de Annina Bemporad pelas ruas de Pitigliano, essa pequena cidade medieval ainda hoje conhecida por «Pequena Jerusalém». A visita inclui as ainda os cavoni, esses corredores misteriosos a céu aberto construídos pelos etruscos, os mesmos que Annina usou para se albergar com Cosimo ou escapar à chegada dos nazis. Por fim, Florença, várias vezes referida no romance, de onde, um dia depois, regressaremos a Portugal.
O desafio está lançado. Em Auschwitz ou em Cracóvia, em Roma, Pitigliano ou Florença, queremos ler e falar de livros nos lugares que lhes pertencem.
Fica o convite.
João Pinto Coelho

PROGRAMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA VIAGEM:
LUSANOVA - Excursões e Turismo Lda. | RNAVT 1739